Jardim
Cesar Alcázar
Estávamos no jardim de inverno, deitados sobre as almofadas do banco, a cabeça dela repousando em meu peito. Ela disse:
— Eu passei por muitos momentos difíceis nos últimos tempos, tem acontecido várias mudanças na minha vida. Quero deixar um monte de coisas pra trás, umas pessoas, inclusive. Mas eu queria que tu ficasse.
Então ela levantou a cabeça e olhou nos meus olhos.
— Tu vai ficar?
— Eu quero ficar.
Silêncio. O rosto dela não escondeu a decepção.
— Que foi?
— Tu não disse que vai ficar.
— Eu não posso dizer isso. Não sei como vai ser o dia de amanhã. Nem tu pode dizer que vai. As coisas mudam. Mas o que eu posso dizer, com toda a certeza, é que eu quero ficar do teu lado.
Algumas semanas depois, eu não estava mais na vida dela, embora quisesse ficar.
Três citações e um poema que não saem da minha cabeça ultimamente:
“Nous nous aimions le temps d'une chanson”.
“Nós nos amamos pelo tempo de uma canção”.
La Javanaise - Canção de Serge Gainsbourg
“I was born when she kissed me. I died when she left me. I lived a few weeks while she loved me”.
“Eu nasci quando ela me beijou. Morri quando me deixou. Vivi algumas semanas enquanto ela me amou”.
No silêncio da Noite - Roteiro de Andrew P. Solt e Nicholas Ray baseado no romance de Dorothy B. Hughes
“When I love somebody I cannot drop it out of my life. Love is not something like you open and you close, you know?”
“Quando eu amo alguém, não consigo arrancar isso da minha vida. O amor não é algo que você abre e fecha, sabe?
Agnès Varda em entrevista para o site Vulture, da New York Magazine
O amor não dói
dizem os especialistas
os coaches
os gurus
os teóricos
em 1 minuto e 30 segundos
despejam suas salivas
e vendem teses, testes, práticas e os cinco passos
de como demover-se
desimplicar-se
defender-se
de tal verso
que implora
rimar amor com dor
mas dói
dói um pouquinho
quando a distância me lembra
que tu é pássaro
guiado pelos desejos e direitos migratórios
e que outros olhos
serão privilegiados da tua presença rara
dói um pouquinho
quando a saudade faz crescer no peito
um girassol a se estender na direção de quem se ama
dói um pouquinho
quando a palavra áspera, o detalhe some
e você não ouve como eu te amo só pelo meu jeito de dizer teu nome
dói um pouquinho
quando náufragos amamos
depressa demais
por vaidade ou por medo
que se desfaça a estrada
ou falte água para a partida
e as cordas não possam mais ser soltas
e os barcos se percam
dentro da cidade
no fundo dos relógios
o amor é cheio dessas pequenas dores
banhadas da sutileza
que é abraçar a impermanência.
que bela coletânea sobre o amor. e esse poema da fantin tá maravilhoso <3